Sobre as cirurgias

O que você deve saber sobre a sua cirurgia 

A sequência da cirurgia

Quando o tratamento de uma determinada lesão na mão exige cirurgia, o paciente geralmente é admitido no hospital no dia do procedimento.

Deve ter consigo os exames pertinentes ao caso e os exames laboratoriais de avaliação de risco cirúrgico. Deve estar em jejum, o que significa que deve abster-se de ingerir qualquer alimento líquido ou sólido pelo período necessário ao esvaziamento do estômago, que em criança é de seis horas e em adultos, oito horas.

A alimentação só está liberada quando é prevista exclusivamente a realização de anestesia local ou bloqueios digitais (exemplo: cirurgias em extremidade de dedos).

Para o acesso à sala de cirurgia, o paciente recebe vestimentas específicas, e então é conduzido à sala de cirurgia, onde deita-se sobre a mesa cirúrgica.

Procede-se, então, à sequência a seguir: monitorização apropriada de todas as funções vitais; obtenção de um acesso venoso; realização da anestesia adequada; degermação rigorosa (em que todo o membro superior, da extremidade dos dedos à axila, é lavado com um sabão antibacteriano, geralmente à base de clorexidina ou iodo); antissepsia com solução alcoólica; isolamento da região a ser operada com campos estéreis (campos cirúrgicos) ; e em seguida, o ato cirúrgico em si.

Para facilitar que a equipe enxergue e proteja a grande quantidade de estruturas nobres, bem como para praticamente eliminar a perda de sangue durante o ato cirúrgico, a circulação do membro é temporariamente interrompida por um dispositivo chamado torniquete pneumático, colocado geralmente logo abaixo da axila.

A figura a seguir mostra como a mão de um paciente é preparada para o ato cirúrgico. O aparelho ao fundo é um modelo de torniquete eletrônico.

Figura 1- preparo da mão para a cirurgia

Ao término da cirurgia, o paciente é transferido da mesa cirúrgica para uma maca, sobre a qual é levado para um setor do centro cirúrgico chamado Sala de Recuperação.

Neste setor, permanece com suas funções vitais monitorizadas, sob a vigilância das equipes médica e de enfermagem, até que seja possível sua transferência para o quarto.

O procedimento anestésico

Isolada ou associadamente, podem ser usadas a anestesia geral ou os bloqueios de nervos para se obter a anestesia necessária para as cirurgias na mão.

Os fatores que são discutidos pelo anestesiologista e pelo cirurgião para a escolha do melhor método em cada caso são o local, tipo e duração da cirurgia, as condições clínicas do paciente (incluindo a análise de doenças pré-existentes, as lesões associadas e a resposta a procedimentos anestésicos prévios), e a familiaridade e experiência da equipe com o método.

A preferência pessoal do paciente também é levada em consideração.

A anestesia geral não difere muito daquela que é usada para outros tipos de cirurgia.

É quase sempre a primeira escolha em crianças ou pacientes não-cooperativos; em casos em que serão manipulados mais de um membro (exemplo: em retiradas de enxerto do membro inferior para a mão); em procedimentos muito prolongados; ou quando a posição durante o procedimento for muito desconfortável para o paciente. 

Na grande maioria dos casos, no entanto, os bloqueios de nervo, que serão explicados a seguir, são suficientes para oferecer boas condições cirúrgicas.

Como, além disso, deseja-se também o conforto do paciente, sedação pré-anestésica criteriosamente selecionada é usada para diminuir a apreensão e o possível incômodo antes e durante o procedimento anestésico, e geralmente é mantida durante o ato cirúrgico para aqueles indivíduos que estejam apreensivos e não desejam manter-se conscientes.

As técnicas de bloqueio de nervos mais utilizadas são os bloqueios de plexo braquial (em diferentes níveis), bloqueios de nervos no cotovelo e punho, e bloqueios nos dedos.

O plexo braquial é formado pela união dos nervos que deixam a coluna cervical para inervar o membro superior.

Portanto, ao abordá-lo, o anestesiologista busca eliminar as sensações dolorosas de praticamente todo o braço, antebraço, punho e mão.

Cada nível do plexo é mais bem abordado por uma via, seja na face lateral do pescoço, acima ou abaixo da clavícula, ou através da axila.

Figura 2- Bloqueio do plexo braquial

Outras possibilidade para anestesia são os bloqueios de nervos no punho , e os bloqueios digitais (na base dos dedos).

Figura 3- Bloqueio na região do punho

Figura 4- Bloqueio digital

Riscos

Não há procedimento médico isento de riscos. Qualquer procedimento sobre o organismo humano gera potenciais riscos, sejam esses procedimentos o uso de medicamentos (“naturais” ou alopáticos), as imobilizações, os métodos físicos (fisioterapia), e, principalmente, os atos cirúrgicos.

Nem todo organismo reage da mesma forma, e nem todas as respostas do corpo são previsíveis. Portanto, existe uma certa porcentagem de complicações, que já são estatisticamente previstas.

No caso da cirurgia da mão, estas complicações incluem complicações inerentes a qualquer ato cirúrgico (exemplo: infecção superficial ou profunda- ocorrem em menos de 01% de todas as cirurgias limpas; soltura de pontos, etc), e outras específicas de procedimentos na mão.

A mais frequente destas é a rigidez temporária ou permanente de uma ou mais articulações, que geralmente desenvolve-se em virtude de aderências de tendões, do edema (inchaço) e da imobilização.

Outras complicações: pseudoartrose, que é quando uma fratura não progride para consolidação; aderências, sejam de pele (cicatriciais) ou tendinosas, e outras complicações específicas para cada tipo de lesão.

Naturalmente, são sempre avaliados pelo médico a necessidade do procedimento, a relação risco X benefício, a incidência estatística de complicações e riscos, e são tomadas medidas para se tentar minimizar os riscos inerentes a cada procedimento.

No caso de uma cirurgia, essas medidas de segurança começam muito antes do ato em si, quando são solicitados exames que avaliam o estado geral de saúde do paciente (os chamados exames de avaliação de risco cirúrgico).

Outras medidas básicas incluem o jejum no pré-operatório, a realização do procedimento no local apropriado (uma sala equipada em um Centro Cirúrgico) e com material adequado e estéril, a assistência de uma equipe de anestesiologistas competentes, a antissepsia rigorosa da pele, o uso de antibióticos durante a cirurgia (quando indicados), a avaliação periódica e os cuidados de higiene após o procedimento, e vários outros cuidados de proteção, por parte da equipe e do próprio paciente.

A informação adequada sobre o diagnóstico e o tratamento é um direito do paciente, e é um dever do médico esclarecer as dúvidas que porventura surjam. Converse sempre com seu médico a respeito dos riscos e sua prevenção.