Síndrome do túnel do carpo

Síndrome do túnel do carpo

Anatomia

Na face palmar do punho, existe um espaço denominado túnel do carpo, cujo assoalho é formado pelos próprios ossos do carpo e cujo teto é formado por uma banda fibrosa, o retináculo dos flexores (antigamente denominado ligamento transverso do carpo).

Através desse túnel, passam os tendões que realizam a flexão dos dedos, bem como o chamado nervo mediano, que é a estrutura responsável pela sensibilidade dos dedos polegar, indicador, médio e metade do anular, e pelo controle de vários músculos do polegar. 

Na ilustração, observa-se a disposição do nervo dentro do túnel.

A ilustração mostra, ainda, que o nervo que fornece a sensibilidade a uma parte do dedo anular e ao dedo mínimo (nervo ulnar), passa por fora do túnel do carpo.

Imagem 1- Ilustração da posição do nervo no interior do túnel

Imagem 2- A seta mostra o nervo. A área sombreada ilustra a região em que ocorre a sensação de formigamento

O que é

A síndrome do túnel do carpo é uma condição causada pelo aumento da pressão sobre um nervo (o nervo mediano), no punho.

Sintomas

A doença causa, tipicamente, sensação episódica de dormência ou formigamento na mão (“acordo à noite com as mãos formigando”, “ao segurar algo com os dedos fechados – telefone, guidom, volante- a mão começa a formigar”, “ao despertar tenho que movimentar os dedos ou sacudir as mãos até passar o formigamento”).

Os sintomas são percebidos inicialmente à noite ou ao despertar.

Com o avanço do quadro, começa a ocorrer uma diminuição mais permanente e progressiva da sensibilidade (“tenho dificuldade para sentir objetos”, “deixo objetos caírem sem perceber”).

A seguir, inicia-se a queixa de dor, a qual não se alivia com o uso de analgésicos comuns.

Numa fase tardia, ocorre atrofia dos músculos da base do polegar (a chamada musculatura tenar), o que causa limitação grave aos movimentos do polegar, e por conseguinte, às funções da mão.

 O sexo feminino é acometido com mais frequência que o masculino, na proporção de 4:1. A idade de surgimento dos sintomas é geralmente entre 40 e 60 anos.

Ocorre frequentemente um quadro de síndrome do túnel do carpo durante a gravidez, que na maioria das vezes regride espontaneamente após o parto.

Causas e fatores predisponentes

A doença é entendida no momento como idiopática, ou seja, não se conhece sua causa exata. Porém, sabe-se que diversas condições aumentam o risco de um indivíduo vir a desenvolvê-la:

Doenças endócrinas – diabete, hipotireoidismo, etc

Doenças reumáticas- artrite reumatóide, gota, lúpus, etc

Fatores mecânicos- sequela de fraturas do punho, cistos, obesidade, etc

Polineuropatias- alcoolismo, etc

Genéticos- história familiar

Vários trabalhos científicos analisaram a possível correlação com as atividades profissionais, e concluíram que não há relação entre a STC e o trabalho. Entre as conclusões, transcrevemos:

“Não há evidências científicas suficientes para associação de causalidade entre atividades profissionais e a STC”.

 “A evidência científica atual é inadequada para implicar  fatores ocupacionais na STC.” 

Diagnóstico

O diagnóstico da doença é clínico, ou seja, baseia-se na análise da história apresentada pelo paciente e nos testes realizados durante o exame físico. Ocasionalmente, podem ser necessários exames complementares, dentre os quais o mais eficaz é a eletroneuromiografia.

Tratamento

Algumas modalidades de tratamento não-cirúrgico vêm sendo testadas ao longo dos anos, com as seguintes conclusões:

  • Corticóides (por via oral ou por infiltração local) e órteses (talas): podem ser eficazes em alguns casos muito iniciais e com sintomas leves; nos demais, o efeito, quando há, é paliativo (somente temporário)          
  • Vitamina B, ioga, fisioterapia, antiinflamatórios, Botox, US, laser, quiropraxia: ineficazes

No tratamento da síndrome do túnel do carpo, busca-se diminuir a pressão sobre o nervo mediano, de modo que a transmissão do impulso elétrico através do mesmo volte a ocorrer normalmente.

A única maneira de obter essa descompressão de maneira definitiva é seccionar o ligamento que forma o teto do túnel e está comprimindo o nervo.

Portanto, até a presente data, é consenso em toda a literatura médica mundial que o tratamento definitivo da síndrome do túnel do carpo é o cirúrgico. As incisões variam conforme a preferência do cirurgião, mas todas visam ao mesmo objetivo. Nossa preferência é pela técnica descrita a seguir.

Sob anestesia local (que é aplicada após sedação, de modo que não há desconforto para o paciente) é feita pequena incisão na palma da mão, permitindo a localização e a secção do ligamento que comprimia o nervo mediano.

A ferida é suturada e protegida por curativo, e o paciente recebe alta no mesmo dia, voltando a exercer as atividades habituais de imediato, com o cuidado de proteger a ferida até a retirada dos pontos. Portanto, atividades de trabalho e de vida diária que não envolvam risco de contaminação da ferida podem ser realizadas, porém as atividades que apresentem risco para a ferida operatória devem ser evitadas. 

Imagem 3-Ilustração demonstrando a técnica cirúrgica, que envolve a abertura do ligamento.

Imagem 4-Incisão utilizada

Imagem 5-Isolamento do retináculo espessado que comprime o nervo . O ligamento é visto acima da pinça.

Imagem 6-Após seccionado o retináculo, observa-se o nervo liberado em toda a extensão do túnel

Imagem 7-Aspecto da cicatriz ao final do procedimento